segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A PEDRA DO ABISMO





























A PEDRA DO ABISMO

O sal das lágrimas no caminho.
O mar estava próximo, com a noite em seu bojo.
A rosa desfolhada, as pétalas sangravam
entre as pedras.
Os pés sangravam.
Dói construir a cor da aurora.

O tempo vai e vem
como as ondas,
como um pêndulo.
A brasa do medo acesa no vazio
dos olhos.
Uma faca contra
o grito,
a que nem o eco responde.
O pássaro do silêncio cai morto no fundo do poço.

A lua dos mortos acena do alto.
É o vale do esqueleto,
o cemitério dos ratos brancos.
Caminho sobre o restolho
apodrecido.
Os meus pés afundam no barro ancestral.

Já nenhum resíduo
de herança:
marfim,
argola de ferro,
a ferrugem
e a pátina cinza.
O corpo de ninguém no recife das estrelas.
Uma pedra no meio do abismo do universo. 


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Veja os Campos de trigo de Gregório Vaz.

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3 comentários:

Anônimo disse...

Ou um universo com gosto de pedra.

Unknown disse...

LINDO!

"Dói construir a aurora", deve doer, como deve doer o nascimento de qualquer ser.

Genial!

Beijos

Mirze

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Meu querido Poeta

Como sempre sublime...a palavra escorre dos seus dedos numa sintonia perfeita.

Deixo um beijinho
Sonhadora