AS ÁGUAS DA AURORA
A casa clara brilhava tanto
que nem se enxergava onde estávamos.
Os lençóis nos varais, alvos,
coavam a luz do sol.
As jarras de leite derramado
na cozinha, no curral, no pasto largo.
A terra era nossa, deitávamos sob as árvores
ouvindo os pássaros de Deus.
O orvalho caía sobre nós
como sobre a couve e a alface.
As garças pintavam de azul o céu da tarde,
depois pastavam a terra sob as vacas.
O vento madrugava se espreguiçando
de um coqueiro a outro.
O córrego cantava claro
jogando pedrinhas nos inhames.
Eu saía a galope para além do horizonte,
nunca mais voltava.
Deitávamos na terra,
nos lambuzávamos de terra
até nos olhos, na boca, nos fundilhos.
O melro cantava no telhado verde
anunciando a claridade das águas da aurora.
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... e apresento A mendiga no blog do Gregório Vaz
6 comentários:
Meu querido Poeta
saudades de o ler, adorei como sempre um belo momento.
Deixo um beijinho
Sonhadora
Bela e iluminada visão...
Inundei-me!
A imagem ficou perfeita com a sensibilidade do poema!
Oi Brandão! Gostaria de me refugiar por um tempo nesse cenário que vc nos trouxe, a partir desse belo poema! Muito belo! Gostei do poesia sobre a mendiga! obrigado pelo elogio! um abraço.
Imagens e poemas aqui nos situam no mais livre dos lugares da terra. Tudo é bonito, natural, e voltamos às vezes à infância mais feliz.
Beijo pra você.
Maravilhoso!
"depois pastavam a terra sob as vacas."
Algo assim além do poema.
Beijos, poeta!
Mirze
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