quinta-feira, 14 de julho de 2011

ELEGIA DE ABRIL

























ELEGIA DE ABRIL

O jardim seco,
a terra se esfarela como farinha de pedra.
Nem os lagartos passeiam entre as pedras, ao sol.
Ainda brilha o sol
e queima como fogo, como ácido.
Espero o sopro da morte
com a memória dos mortos na palma da mão.

Derrotado, ostento
os meus andrajos como bandeiras desfraldadas ao vento.
De minha casa não restam nem as ruínas,
apenas o eco ribomba sob a terra.
Eu me olhava no espelho e não me reconhecia,
olhava novamente e já era outro;
hoje todos os espelhos estão quebrados.
O último baú que abri (quando eu ainda tinha baús)
guardava o meu próprio esqueleto.
Eu me perguntava: como não estou morto, Senhor?
Deus se calava, apascentava as ovelhas do eterno.

Conheço a desolação com um nó na garganta.
Ainda vejo minha mãe aos prantos na beira da estrada,
ainda vejo meu pai na beira do poço
e os meus irmãos perdidos no mundo.
Nós ouvimos o Verbo de Deus,
sofremos todas as desgraças da nossa idade.
A idade do homem é a idade do escárnio,
eu me cubro de cinza e saio pelos caminhos.

Esta é a idade do escárnio, esta é a idade do escárnio.
Eu sou um fraco.
Não aprendi a orar
nem conheci a cegueira dos puros.
Eu tenho uma espada na garganta
para que não conspurque a palavra.
Eu tenho uma espada no peito
que me exaure as forças.
Deus trouxe a espada ao mundo.
A luz vive no eterno, amém.



6 comentários:

Luiza Maciel Nogueira disse...

Brandão amém à poesia qe sai das tuas mãos! Beijos

Unknown disse...

José Carlos!

O verbo de Deus habita em seu peito, não há como negar,

Digo AMÉM à este belo poema!

E quero dizer que o que está escrito em sua camisa, foi o que me fez pensar que seria verdade. Viu como sou boba?

Beijos

Mirze

Graça Pereira disse...

Eu diria que parece quase um salmo!
Belissimo!
Beijo amigo
Graça
PS Quando receberes o envelope avisa-me pf!

Fernando Campanella disse...

Uma beleza de poema, Brandão. Um canto elegíaco à Idade do Homem, onde compilamos nossas dores e misérias, ansiando pela luz de um Deus indiferente, aparentemente absorto em sua fleuma. Sob a espada do Espírito a demarcar os territórios contrastantes onde se movem nossos dramas. Parabéns, meu amigo.

BAR DO BARDO disse...

Amém!

O fio...
Elegia e tanto...

Bazófias e Discrepâncias de um certo diverso disse...

Muito bonita a elegia, Brandão!
Também excelente o nosso papo, ontem...
Um grande abraço!