domingo, 10 de julho de 2011

A SERPENTE



 
A SERPENTE


A serpente rasteja sobre a areia e as pedras
do deserto.
Atenta, escuta o mundo com o corpo sibilino.

Amadureço,
hipnotizado pelo olhar da serpente.
 Sob o sol e o vento, 
permaneço. 

Cego
pela areia, o sangue envolve-me
e é noite em mim. 
A estrela
na fronte da serpente queima como fogo.

A noite se revela em sua arquitetura
abissal.
Curva,
turva,
paralela ao ímpeto da serpente, no ar.

A constelação
da existência
encolhe-se na língua bífida da serpente. 




4 comentários:

Tania regina Contreiras disse...

Que beleza de poema! Vc não faz poesia porque vai morrer, faz para que muitos possam continuar vivendo, eis a verdade. Obrigada pela leitura...
Abraços,

Fernando Campanella disse...

O poeta e seus símbolos. A serpente parece ter tantos significados em nossa constelação mítica. Um dos meus primeiros poemas, dos idos de 84, fala dessa serpente notívaga, veja:

JARDIM INTERDITO

Eros me trespassa no discursos dos sonhos
onde pétalas de gozo se soltam
e a serpente notívaga rasteja -
inadiável fera ilesa...

Abraços, Brandão.

Adriana Godoy disse...

JC, um poema sibilante..a imagem construída é perfeita. Parabéns, mestre. Bj

dade amorim disse...

Maravilha de imagens, linda arquitetura a deste poema.

Abraço grande.