sexta-feira, 29 de julho de 2011

A ARGOLA
















 Foto da varanda da casa da minha infância - quase como era há tantos anos.


A ARGOLA

Uma argola solitária na varanda
da minha infância.
Solitária,
inútil,
equivocada:
nunca
nada foi ali pendurado.
Sempre amei as coisas que não significam nada.
Por acaso amei essa argola
de que ninguém se lembra:
enfeite,
estorvo,
encalhe. Certamente linguagem
em sua solerte mudez: memória
no poço fundo
afogada na água suja do tempo e seus dejetos.

Uma argola na varanda,
no pescoço,
nas ventas.
Onde estou, nesse espelho côncavo, convexo, vão?
A minha imagem
perdida
pendurada
na varanda
como uma argola enferrujada no fundo do poço seco
desmoronado
com a casa
e seu sangue, em silêncio.
Deus lê o meu poema com uma esquiva alegria
e nenhum escárnio. Rara a vida e a argola.


                       ____________
                     
                               Gregório Vaz deixa uma mensagem na garrafa.





5 comentários:

Anônimo disse...

Uma argola, um elo para a infância, há sempre um objeto que carrega esse transporte de lembranças, coisas que só reparam os ainda não cansados olhos da inocência.

Belo poema!

Unknown disse...

Lindo!

Também amo argolas, mas odeio piercings.

A lembrança é sempre linda!

Beijos

Mirze

Adriana Godoy disse...

São pequenos objetos que despertam grandes lembranças...muito lindo seu poema. Beijo

Bazófias e Discrepâncias de um certo diverso disse...

Brandão, Os olhos da criança sempre miram e fixam em alguma coisa bem peculiar, e quando a gente lembra.. é indescritível... ou não, como foi o caso! heheh abraços

Unknown disse...

As coisas inúteis são as melhores, fazem bem à alma...