quinta-feira, 22 de abril de 2010
Os pássaros da aurora
Os pássaros da aurora
A siriema bica o ovo do dia
Na porta da cozinha, quebra a casca.
O cheiro do café coado grita.
O forno gordo estoura com os pães.
Estralam as estrelas no fogão.
As galinhas se agitam no terreiro.
O galo engasga com o sol e grita.
O cavalo relincha sob o arreio.
O meu pai tira leite das vacas
Coroado das flores da paineira.
Os bezerros invadem o pomar,
Os cães correm atrás e latem, latem.
Cantam todos os pássaros da aurora.
A luz inunda a terra como um mar.
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Hoje é o Dia da Terra. Para mim todos os dias são dias da terra. Estou preparando um livro com cem poemas telúricos, que vou lançar provavelmente em 19 de agosto. Telúricos, da terra. Em especial do lugar onde eu nasci, o Matão.
Miguel Torga é do Marão, eu sou do Matão. Diz Torga: “Do meu Marão nativo abrange-se Portugal; e, de Portugal, abrange-se o mundo.”
Lembro mais uma vez Tosltoi: “Canta a tua aldeia e cantará o mundo.” E sigo cantando o meu pedaço de terra, o Matão, e sei que estou cantando a terra vermelha de São Paulo, e a terra branca de Bauru, e as falésias coloridas do Beberibe, e a areia monazítica de Itaguá, em Ubatuba, SP, e o barro de Santa Catarina (morei dois anos lá, há meio século, e chamavam a terra de barro), e estas terras abrangem as terras do mundo inteiro. O barro de que somos feitos, o limo original.
Dedico este poema à terra, neste dia, e todos os outros meus poemas, em todos os dias.
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10 comentários:
Bem.
:)
Oi querido!
E hoje minha filha não me fez plantar arvore e tudo, mesmo estando de repouso. Gosto de mais dessa geração!
bjs.
Maravilhosa essa relação de amor com a terra.
L.B.
Meu amigo
Adorei o poema e o texto.
Beijinhos
Sonhadora
A Terra agradece. Esse poema só pode fazer bem e trazer boas energias...Bravo, JC! Lindíssimo. Beijo.
Que maravilha Zé!
Cantar nosso torrão de terra!
Me condenaram a chorar um pedaço de concreto, mas ando resistindo...
Forte abraço!
Que bom se todoe amassem assim a Terra!Lindo!abração,chica
Vc é o poeta que canta a Terra. Para vc, realmente, todos os dias são dias da terra.
É muito bom acompanhar seus poemas, suas homenagens à Terra.
Quando li a frase de Torga, logo pensei: "Ele (Torga) foi buscar em Tolstói". E vc também fez a mesma associação que eu fiz.
"Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
De onde nem tempo, nem espaço
Que a força mãe dê coragem
Prá gente te dar carinho
Durante toda a viagem
Que realizas do nada
Através do qual carregas
O nome da tua carne..."
Terra é a canção que mais gosto, Brandão. Pude ouvi-la por aqui. Possamos seguir ouvindo... Beijo.
Brandão,
Vc é "o poeta taoísta" de Bauru.
Seu Cristianismo e sua leitura poética do mundo também são "taoístas".
Considero isso como uma espécie de "reserva ecológica da palavra": avis rara.
Abração.
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