Invenção do limo
O limo veio do córrego,
Do capão de mato onde as águas nascem.
Veio do parto da aurora, das chuvas,
Do medo sangrando no peito
Veio do poço, das tulhas, dos arados ancestrais,
Veio no rabo de um cometa, de uma estrela.
Veio da noite. Cobriu as roças, as árvores, a casa.
Me cobriu.
Sou vestido de limo como todos os caminhos.
As penas dos pássaros são limo,
O relincho dos cavalos, o mugido das vacas são limo.
A voz não diz nada: é limo.
Memória anterior à criação: limo.
Sem forma, sem nome: sou ungido de limo.
_________
A Henrique Pimenta, http://dobardo.blogspot.com/
que postou um poema chamado Limo e me fez lembrar desse meu... Foi difícil achar, perdido num blog desativado de 2002. Vai aqui (ninguém viu lá). Com a minha homenagem ao Bardo, que ressuscitou este poema.
15 comentários:
Também guardo profundamente essa convicção de que quem não morre pra certas coisas, não pode nascer pra outras...
Um grande abraço!
Querido José Carlos,
Que bom você ter ressuscitado esse poema pois ele merecia estar nesse seu novo blog.
Hoje estou mais para o ritual judaico (rsrsr): A voz não diz nada:é cinza./Memória anterior à criança:cinza./Sem forma, sem nome:sou ungida de cinza.
Grrrrrrrrrraaaaaaaannnnde abraço!
(Acabei de mandar um e-mail para você. Não sei se acertei o endereço)
Precisava mesmo ser resgatado: ótimo poema e de uma densidade incrível.
Limo de luz - coisa de poeta...
Sinto que o trabalho todo será recompensado pela leitura (prazerosa) de seus seguidores.
Muito obrigado pela lembrança!
A propósito, só fiz um poema acerca do limo porque você "me desafiou", hehehe...
- Henrique Pimenta
Valeu muito a pena ressuscitar este poema da "invenção do limo" substância orgânica que pode ser suja, mas aduba e recria.
Um beijo
Um antigo limo sempre guardado, pronto para novamente apresentar e agradar. Muito bonito!
um abraço, ótima semana
Homenagem muito bem escolhida. O Pimenta merece!
Beijos.
José Carlos!
Sempre sigo o que o Mestre Bardo indica porque sei que são boas as indicações.
Só não esperava que me deparasse com um belo poema sobre o "limo", que como o poeta diz, quase tudo é limo. Onde menos se espera nasce limo.
Bardinho merece, e você em dobro, pelo poema e pela procura.
Segui-lo-ei.
Beijos
Mirse
Um bom ótimo poema brejeiro, conversa de quem sabe que poesia é como odor de rio ao relento.
Abraço!
O limo me lembra a infância. Sim - há algo de ancestral no limo. Poema com cheiro de terra molhada... Abraços, Brandão.
Brandão,
Uma Récita. Poderia ter sido feita pelo Orixá Nanã.
Abração.
JC, PASSEI RAPIDAMENTE PRA CONFERIR ESSE BELO POEMA. PARABÉNS A VOCÊ E AO HOMENAGEADO. AMBOS SÃO MESTRES. BEIJO.
Que belo poema Brandão!
Merecida homenagem :)
bj
Lí
Belíssimo poema, realmente, Brandão. Somos ungidos de limo, a matéria estelar da criação. Grande abraço. E parabéns pela postagem.
E que bom que ressuscitou!
É lindo, tocante e universal.
Um beijo, poeta.
Postar um comentário