quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Com o arame farpado na língua




1.

Com o arame farpado na língua
não me calo.
O sangue é a minha voz.
A minha língua sangrenta sobe ao céu.


2.

Com a faca da poesia na mão
escrevo na carne o meu poema.
Sei que um dia morrerei, mas deixo
a semente do meu grito plantada na terra.


3.

Contemplo o mundo do alto da montanha.
Os homens são formigas entre ruínas,
a cidade é um cigarro apagado.
Repouso entre as nuvens e as pedras duras.


4.

Primeiro ouvimos o toque de silêncio.
Depois caminhamos pelo pátio desolado.
Um de nós havia morrido afogado
e era como se cada um de nós fosse o morto.


5.

Não fui nem nunca serei barro a ser moldado.
Eu próprio moldei minha forma de homem.
Ordeno: pare, chuva; pare, sol.
Enfim, me atiro da muralha e morro.


6.

Na pedra a lição de poesia.
O mistério das coisas, nítida escrita
nas ranhuras leves ou fundas da pedra.
Olho a pedra como a um espelho.

9 comentários:

BAR DO BARDO disse...

O gênio permanece...

Lídia Borges disse...

Muito expressiva esta poesia, de imagens fortes. Realço:

"Na pedra a lição de poesia.
O mistério das coisas, nítida escrita
nas ranhuras leves ou fundas da pedra
Olho a pedra como a um espelho."

L.B.

Anônimo disse...

O amigo esta bem revolucionario hoje!
Muito bom.
Bjs.

Paula Raposo disse...

Gostei de te ler neste arame farpado! Muito bom! Beijos.

Fernando Campanella disse...

Bom dia, Brandão. Muito boas as quadras. Como a Lídia disse acima, também me tocou mais esta:

Na pedra a lição de poesia.
O mistério das coisas, nítida escrita
nas ranhuras leves ou fundas da pedra
Olho a pedra como a um espelho.

Maravilha. Tua poesia é das entranhas, do corte, da dor crua feita ascese, um sangue depurando em vinho, um brinde à ordem espiritual do homem.

Ah, concordo com vc quanto ao comentário sobre a crônica do rio lá em meu blog, assino embaixo. E, olha, movido por tuas palavras, fiz algumas alterações lá na referida crônica, isso porque no fundo essas verdades que vc expressou são o que realmente sinto. Veja se ficou melhor. Grande abraço, meu amigo, meu contato com vc no mínimo me enriquece. Estou muito feliz em ter vc e a Sonia como amigos de alma.

nydia bonetti disse...

há um exército nas ruas, devastando cidades
cantando
canções de liberdade

os derrotados, sequer sentem o frio e a dor
da lâmina
de tais soldados.

JC, teus poemas e os de Sônia sempre me inspiram a escrever outros. Generosas fontes... Bjs.

Edson Bueno de Camargo disse...

Um de nós havia morrido afogado
e era como se cada um de nós fosse o morto.

e o somos, e o somos...

Adriana Godoy disse...

JC, gostei imensamente dos poemas, da qualidade, das imagens que proporcionam. Realmente, o Bardo tem razão: " o gênio permanece". beijo.

Gisele Freire disse...

"Não fui nem nunca serei barro a ser moldado.
Eu próprio moldei minha forma de homem.
Ordeno: pare, chuva; pare, sol.
Enfim, me atiro da muralha e morro."

Tudo está dito!

bjs my friend

Gi