sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A carroça do caos




Estou cansado de puxar a carroça do caos.
Estou esmigalhado sob a mó do tempo que não para, não para.
Sou escravo dos meus cinco sentidos e gemo e suo sangue.
Cego e surdo e castrado, quero ouvir a voz de Deus.

Eu fui castrado do meu sentido essencial: o êxtase.
Eu fui castrado da contemplação do divino e agonizo.
Eu navego no mar de veneno da minha vida,
Eu estrangulo os lírios do campo e os pássaros do céu.

Estou nu como uma pedra, como um sabugo apodrecendo.
Acalento a desgraça no peito como uma serpente, um abutre:
A serpente me leva o coração,

O abutre me devora o fígado, os olhos, a língua.
Amei com um ódio vil a minha condição de réprobo.
A vida me foge, sapateio no palco, a multidão aplaude.

_________

Foto: Contemplação de Ouro Preto, 2007.
Poema de O Silêncio de Deus, 2009.

12 comentários:

Anônimo disse...

Gostei tanto que se vc me pedir pra explicar o porque não vou saber.
Bjs.

Gisele Freire disse...

Brandão
Maravilhoso!
Bj
Gi

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Muito belo...não tenho palavras...talvez amargo?Gostei muito
Um Beijo
Sonhadora

nydia bonetti disse...

E esta carroça passa e devora gerações. Antes podíamos ouvir o gemido das rodas. Agora, os ruídos são tantos, ninguém mais ouve, ninguém mais vê, ninguém mais sente... E ainda assim, aplaudem.

Com certeza, este poema é um dos mais belos dos teus que já li, Brandão. Que coisa...

Beijos

EDUARDO POISL disse...

Hoje passando para de agradecer a visita no meu blogger e ler este poema maravilhoso.

"Se tiver que amar, ame hoje.
Se tiver que sorrir, sorria hoje.
Se tiver que chorar, chore hoje.
O ontem já se foi e o amanha talvez não venha".

(André Luiz/Chico Xavier)

Abraços, um lindo final de semana com muito amor e carinho.

Rafael Castellar das Neves disse...

Que paulada, Brandão!!

Muito bom, intenso e pesado...gostei!

"Eu faço poesia porque vou morrer"? Que sacada...!

Abraço..

Maria Maria disse...

É muito bom vir aqui!

Beijos,

Maria Maria

Edson Bueno de Camargo disse...

o aro da roda
desta carroça com peso do universo
e da madeira do arco de shiva

se os poetas
perderem o êxtase
como se construir o mundo?

Abraços poéticos,

Fernando Campanella disse...

LINDO POEMA, UM GRITO AGUDO DAS ENTRANHAS ONDE INSISTE, APESAR DE TUDO, NOS ACENA UM DEUS. LINDÍSSIMA FOTO.

TEM UM DESAFIO PRA VC E PRA SONIA LÁ EM MEU BLOG. DÊ UMA ESPIADINHA LÁ. GRANDE ABRAÇO.

Anônimo disse...

Esta carroça pesa tanto que sugere que ela passa vagorosamente sobre o túmulo em que pensamos estar.
Um belo poema, apesar da dor que transmite.
Renato Ladeia

Adriana Godoy disse...

Nossa! Poemaço esse. Intenso, forte, visceral. Gostei demias. Parabéns, JC por mais esse trabalho de qualidade. beijo.

Graça disse...

Outro magnífico... adoro a tua escrita.

"Estou nu como uma pedra..."____ lindo!


Outro beijo, de carinho