terça-feira, 10 de novembro de 2009

O Cristo de Baependi


Baependi
Upload feito originalmente por Haroldo Kennedy


O Cristo de Baependi

O rio do tempo ainda e sempre corre
e suas águas lavam a memória
e as fábulas sonhadas. Tudo morre.
Pouco mais resta que uma velha história:

“A verdade de cada dia jorre
e junte na madeira a chaga e a glória.
A dor que Deus não vê e não socorre
seja gravada em síntese corpórea.”

E enquanto o esquecimento dilatado
as coisas de cruzada cinza tece,
em Baependi o Cristo permanece.

As ondas do destino levantado
a arte barroca anônima velando.
À sombra das montanhas serenando.

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Este poema tem 33 anos. Na minha viagem de núpcias, em julho, passei por várias cidades do sul de Minas, entre elas Baependi. Foi quando conheci essa história e escrevi um soneto tentando recriá-la. Não gostei do resultado e nunca o publiquei. Mas uma obra de arte, como se diz, nunca é de se jogar fora.

Pensando em mostrá-lo aos amigos, procurei na internet uma imagem do Cristo da história. Nenhuma referência ao Cristo que me foi apresentado com fervor. Agora só se fala na Nhá Chica, que talvez, segundo dizem e esperam, se torne a primeira santa brasileira. Encontrei uma imagem do Cristo, sem nenhuma explicação.

Lembro-me da escultura como dolorosamente bela. Na época, escrevi a seguinte apresentação do poema. Vejo que agora é mais do que necessária. O motivo e matéria que glosei, mal ou bem, evaporou-se. Interessante: perdendo-se na história, o meu poema tornou-se histórico.

“Baependi é uma das cidades mineiras sem nenhuma fama, nenhuma produção de vulto, conhecida apenas por seu Cristo e a lenda que o envolve: um fazendeiro, curado o filho doente, fez construir, por um desconhecido que se isolou em uma cabana, um Cristo em tamanho natural, cravejado de pedras preciosas, com expressão de sofrimento intenso e, dizem todos que tiveram a desdita de as olharem naqueles tempos, há bem mais de duzentos anos, com as feições do moço curado, que teve a sua cura bem paga.”

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3 comentários:

BAR DO BARDO disse...

Obra.
Eu gostei.

Adriana Godoy disse...

Interessante essa história, belo o soneto..beijo.

Fernando Campanella disse...

Boa tarde, Brandão, gostei tanto desta postagem que vou responder, em intertextualidade, a ela em meu blogger. Grande abraço, meu amigo.