sexta-feira, 9 de abril de 2010

Invenção do limo



Invenção do limo


O limo veio do córrego,
Do capão de mato onde as águas nascem.
Veio do parto da aurora, das chuvas,
Do medo sangrando no peito

Veio do poço, das tulhas, dos arados ancestrais,
Veio no rabo de um cometa, de uma estrela.
Veio da noite. Cobriu as roças, as árvores, a casa.

Me cobriu.

Sou vestido de limo como todos os caminhos.
As penas dos pássaros são limo,
O relincho dos cavalos, o mugido das vacas são limo.

A voz não diz nada: é limo.
Memória anterior à criação: limo.
Sem forma, sem nome: sou ungido de limo.


_________


A Henrique Pimenta, http://dobardo.blogspot.com/

que postou um poema chamado Limo e me fez lembrar desse meu... Foi difícil achar, perdido num blog desativado de 2002. Vai aqui (ninguém viu lá). Com a minha homenagem ao Bardo, que ressuscitou este poema.

15 comentários:

Anônimo disse...

Também guardo profundamente essa convicção de que quem não morre pra certas coisas, não pode nascer pra outras...

Um grande abraço!

Anônimo disse...

Querido José Carlos,

Que bom você ter ressuscitado esse poema pois ele merecia estar nesse seu novo blog.
Hoje estou mais para o ritual judaico (rsrsr): A voz não diz nada:é cinza./Memória anterior à criança:cinza./Sem forma, sem nome:sou ungida de cinza.
Grrrrrrrrrraaaaaaaannnnde abraço!

(Acabei de mandar um e-mail para você. Não sei se acertei o endereço)

Gerana Damulakis disse...

Precisava mesmo ser resgatado: ótimo poema e de uma densidade incrível.

BAR DO BARDO disse...

Limo de luz - coisa de poeta...

Sinto que o trabalho todo será recompensado pela leitura (prazerosa) de seus seguidores.

Muito obrigado pela lembrança!

A propósito, só fiz um poema acerca do limo porque você "me desafiou", hehehe...

- Henrique Pimenta

Lídia Borges disse...

Valeu muito a pena ressuscitar este poema da "invenção do limo" substância orgânica que pode ser suja, mas aduba e recria.

Um beijo

Sonia Schmorantz disse...

Um antigo limo sempre guardado, pronto para novamente apresentar e agradar. Muito bonito!
um abraço, ótima semana

Anônimo disse...

Homenagem muito bem escolhida. O Pimenta merece!

Beijos.

Unknown disse...

José Carlos!

Sempre sigo o que o Mestre Bardo indica porque sei que são boas as indicações.

Só não esperava que me deparasse com um belo poema sobre o "limo", que como o poeta diz, quase tudo é limo. Onde menos se espera nasce limo.

Bardinho merece, e você em dobro, pelo poema e pela procura.

Segui-lo-ei.

Beijos

Mirse

Wilson Torres Nanini disse...

Um bom ótimo poema brejeiro, conversa de quem sabe que poesia é como odor de rio ao relento.

Abraço!

nydia bonetti disse...

O limo me lembra a infância. Sim - há algo de ancestral no limo. Poema com cheiro de terra molhada... Abraços, Brandão.

Marcelo Novaes disse...

Brandão,



Uma Récita. Poderia ter sido feita pelo Orixá Nanã.





Abração.

Adriana Godoy disse...

JC, PASSEI RAPIDAMENTE PRA CONFERIR ESSE BELO POEMA. PARABÉNS A VOCÊ E AO HOMENAGEADO. AMBOS SÃO MESTRES. BEIJO.

lírica disse...

Que belo poema Brandão!
Merecida homenagem :)
bj

Fernando Campanella disse...

Belíssimo poema, realmente, Brandão. Somos ungidos de limo, a matéria estelar da criação. Grande abraço. E parabéns pela postagem.

dade amorim disse...

E que bom que ressuscitou!
É lindo, tocante e universal.

Um beijo, poeta.