domingo, 13 de maio de 2012

Às mães (O coração do menino)




                       O CORAÇÃO DO MENINO


O menino está na barriga da mãe como um tesouro que ela guarda escondido.

O seu coraçãozinho bate junto do coração da mãe, ansioso, maravilhado.

Aproximei a minha cabeça para ouvi-lo e fiquei apalermado: tanta energia, tanta vontade de viver.

O seu coraçãozinho não batia: galopava. O que eu ouvi foi um galope firme dentro da ventania.

A placenta fazia um barulho como uma ventania, e lá o menino galopava, preparando-se para as ventanias da vida.

Eu não sei o que lhe dizer. Há momentos em que as palavras são vazias, inúteis como flores murchas.

O menino tem três meses, um tamanhinho de nada, e uma bruta disposição para viver.

Ele domina o mundo, com a certeza de que a vida compensa, de que a vida é um milagre.

Eu ouvi o menino bradar, num som de galope, que a vida é bela e que ele caminha para ela, a toda brida, querendo viver.

Eu compreendi que o menino tem asas e voa para além das tempestades, até lá onde mora a origem de todas as coisas.

Eu compreendi a mensagem do menino, nova como a primeira palavra que, vinda do infinito, faz o mundo nascer.

O menino existe para dar luz à escuridão mais fechada.
A sua visão traz a sabedoria essencial do universo.

O poeta é um anjo trôpego batendo numa pedra com seu bordão de andarilho, à espera de uma impossível resposta.

O menino é essa resposta.





Um comentário:

Quintal de Om disse...

Que lindeza cabei de ler, José.

Mais que um milagre amadurecido dia após dia, a beleza do ventre de germinar o verso, faz do poeta, menino para sempre.

Meu beijo,
Sam.