RESÍDUO
Por trás de
tudo fica um pouco de terror.
As rosas
crescem com o terror nas pétalas.
Um campo de
rosas cresce
em torno de
minha casa: é o campo da morte.
Os pássaros
cantam no meu campo de rosas,
alimentam-se
das sementes da morte.
Olho uma
rosa,
sinto o seu
perfume, sinto a
rosa nos
lábios –
e é sempre
como se estivesse para morrer.
Penso que
poderia acordar, mas
também penso
que posso estar morto.
O sonho é um
ensaio da morte
com um
diretor
impertinente
andando em volta do leito.
As luzes se
acendem, o sol se acende, a vida
se ilumina.
É tanta a
luz que os olhos sangram.
O tempo não
perdoa.
A mó mói a
farinha
das horas.
O relógio
geme no poço.
Os espinhos
da alucinação me despertam.
É primavera
lá fora,
mas chove
como um dilúvio.
O que é um
dilúvio? Só de eu pensar
o dia se
esboroa no seu mastro, anjos desmoronam
montanha
abaixo, sem asas.
Bato
pálpebras, bato pálpebras e voo.
J. C. Brandão
2 comentários:
Tudo tem o seu gérmen de destruição, sim... se essa for a percepção que tivermos de tudo, assim ela será, também.
Intenso e contagiante como a morte ou algo assim. Bj
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