D’APRÈS MANUEL BANDEIRA
Minha grande ternura pelos passarinhos que eu matei
com o meu estilingue e a minha sanha assassina de menino.
Pelas lagartixas na parede, translúcidas e frias,
Pelas pequenas moscas que serviriam de alimento
às aranhas, aos sapos gorduchos e às lagartixas.
Minha grande ternura pelas mulheres feias,
Minha grande ternura pelas mulheres feias,
mendigando algum afeto, alguma humanidade;
por uma prostituta desdentada que um dia me convidou
e eu não fui, mas saí daquela rua doendo;
pelas crianças abandonadas no lixo,
pelos pobres que se alimentam de lixo.
Minha grande ternura pelos poemas que rasguei
de tão desajeitados em seu jeito de sofer
(porque um poema é feito para se sofrer).
Minha grande ternura pelos pobres desamados
que permanceceram crianças à porta da velhice
(prontas para entar no paraíso – que é dos pequeninos).
Minha grande ternura pelo menino que eu fui
perdido no mundo, como agora ainda estou.
9 comentários:
Belíssimo...!
Absolutamn]ente belo e irresistível, José Carlos.
Andava com muitas saudades daqui, de teus poemas que vão direto ao coração da gente.
Essa nova série é maravilhosa.
Volto logo.
Um beijo.
Olá, Brandão! Lindo poema, são atitudes e que viram sentimentos que vão direto ao coração... E como machucam!
beijo
Tais Luso
Que bom que reabriu os comentários! Gregório também deveria fazer o mesmo. Grande abraço!
↓
Aberto NOVAmente!
-- Tem pão?
-- NÃÃÃO! Só poemas...
Quero aquele.alí.lá.em.cima.após.o.outro!
:o)
Adoro seus poemas.
Realmente, o mundo entristeceu, a terra tremeu a alma ruiu, quando acabou o contato direto com o Professor e poeta José Carlos Mendes Brandão.
De volta sinto-me amparada pela poesia pura e nobre.
Beijos, poeta!
Mirze
Nossa, não conhecia esse poema do meu poeta favorito. Lindo, lindo, lindinho, lindão! E adorei passear aqui pelo seu blog. O cachorro da foto é uma fofura!!!
E que grande ternura para com a vida anônima, sofrida, esse poema nos traz, Brandão. Uma beleza em forma e conteúdo. Forte abraço.
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