quinta-feira, 19 de maio de 2011

D’APRÈS MANUEL BANDEIRA





D’APRÈS MANUEL BANDEIRA


Minha grande ternura pelos passarinhos que eu matei
com o meu estilingue e a minha sanha assassina de menino.
Pelas lagartixas na parede, translúcidas e frias,
Pelas pequenas moscas que serviriam de alimento
às aranhas, aos sapos gorduchos e às lagartixas.

Minha grande ternura pelas mulheres feias,
mendigando algum afeto, alguma humanidade;
por uma prostituta desdentada que um dia me convidou
e eu não fui, mas saí daquela rua doendo;
pelas crianças abandonadas no lixo,
pelos pobres que se alimentam de lixo.

Minha grande ternura pelos poemas que rasguei
de tão desajeitados em seu jeito de sofer
(porque um poema é feito para se sofrer).

Minha grande ternura pelos pobres desamados
que permanceceram crianças à porta da velhice
(prontas para entar no paraíso – que é dos pequeninos).

Minha grande ternura pelo menino que eu fui
perdido no mundo, como agora ainda estou.



9 comentários:

Juan Moravagine Carneiro disse...

Belíssimo...!

dade amorim disse...

Absolutamn]ente belo e irresistível, José Carlos.
Andava com muitas saudades daqui, de teus poemas que vão direto ao coração da gente.
Essa nova série é maravilhosa.

Volto logo.
Um beijo.

Tais Luso de Carvalho disse...

Olá, Brandão! Lindo poema, são atitudes e que viram sentimentos que vão direto ao coração... E como machucam!

beijo
Tais Luso

Fred Caju disse...

Que bom que reabriu os comentários! Gregório também deveria fazer o mesmo. Grande abraço!

carikaturARTE disse...



Aberto NOVAmente!

-- Tem pão?
-- NÃÃÃO! Só poemas...

Quero aquele.alí.lá.em.cima.após.o.outro!

:o)

Anônimo disse...

Adoro seus poemas.

Unknown disse...

Realmente, o mundo entristeceu, a terra tremeu a alma ruiu, quando acabou o contato direto com o Professor e poeta José Carlos Mendes Brandão.

De volta sinto-me amparada pela poesia pura e nobre.

Beijos, poeta!

Mirze

Unknown disse...

Nossa, não conhecia esse poema do meu poeta favorito. Lindo, lindo, lindinho, lindão! E adorei passear aqui pelo seu blog. O cachorro da foto é uma fofura!!!

Fernando Campanella disse...

E que grande ternura para com a vida anônima, sofrida, esse poema nos traz, Brandão. Uma beleza em forma e conteúdo. Forte abraço.