segunda-feira, 16 de maio de 2011

D’APRÈS ALBERTO CAEIRO




O Tietê é mais belo que os dois córregos que correm pela minha aldeia,
Mas o Tietê não é mais belo que os dois córregos que correm pela minha aldeia
Porque o Tietê não é os dois córregos que correm pela minha aldeia.

O Tietê é um rio enorme
Perto dos meus pequeninos dois córregos.
Foi a rota dos bandeirantes, dos aventureiros, dos colonizadores,
Nasce na beira do mar e atravessa todo o Estado de São Paulo.
Toda a gente sabe disso.
Mas poucos sabem quais são os dois córregos da minha aldeia,
Que um se chama Fundo e o outro Lajeado
E que se encontram formando o rio do Peixe,
Que vai se tornar muito mais adiante o rio Jaú,
Mas isso é outra história.
O que importa é que na confluência do Fundo e do Lajeado
Nasceu a minha aldeia
E por isso o Fundo e o Lajeado são muito maiores
Para mim e para a minha aldeia.

Pouco importa que pouca gente conheça os dois córregos da minha aldeia,
Os dois córregos que lhe deram o ser e o nome.
O Tietê também passa pela minha aldeia,
Mas lá longe, descendo tanto a serra que nem é mais a minha aldeia.
O Tietê é a História,
Todo mundo conhece, todo mundo ama.
Todo mundo imagina mil histórias heróicas ao pé do rio Tietê.
Ao pé dos meus dois córregos não se imagina nada,
Apenas deixa-se existir simplesmente
Como as coisas existem,
Como as águas que passam e se renovam sem se dar por isso.

Gregório Vaz - Metamorfoses de Ofídio



Um comentário:

CANTO GERAL DO BRASIL (e outros cantos) disse...

Gregório,
Caeiro, um mestre; você, um grande metamorfoseador: pessoa de rara sensibilidade, pude sentir, pude notar...
Posso voltar?

Abraço mineiro,
Pedro Ramúcio.