quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Escusa – um poema de Manuel Bandeira
Escusa
Eurico Alves, poeta baiano,
Salpicado de orvalho, leite cru e tenro cocô de cabrito,
Sinto muito, mas não posso ir a Feira de Sant’Ana.
Sou poeta da cidade,
Meus pulmões viraram máquinas inumanas e aprenderam a respirar o
[gás carbônico das salas de cinema.
Como o pão que o diabo amassou.
Bebo leite de lata.
Falo com A., que é ladrão.
Aperto a mão de B., que é assassino.
Há anos que não vejo romper o sol, que não lavo os olhos nas cores
[das madrugadas
Eurico Alves, poeta baiano,
Não sou mais digno de respirar o ar puro dos currais da roça.
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Manuel Bandeira, in Belo Belo, Estrela da Vida inteira.
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10 comentários:
Outro dia vi para vender suas obras completas (Manuel Bandeira), fiquei só na vontade! rsrs
beijos
Que coisa!
José Carlos!
Escolha belíssima! Manuel Bandeira era de uma genialidade singular.
Estava adiante do tempo.
"não sou mais digno de respirar o ar puro dos currais da roça"!!!!
Nem eu sou mais digna!
Muito BOM!
Um abraço!
Mirze
O poeta Eurico Alves e sua glória confinada ao diálogo que manteve com Manuel Bandeira, do qual resultou este poema “Escusa" num contexto informal que se inscreve na primeira fase do modernismo.
As referências à cidade e seus mecanismos a marcarem a inaptidão do individuo para o urbanismo emergente que despersonaliza e confunde o individuo.
Um beijo
talvez hoje Bandeira se sentisse em casa ao chegar em Feira de Santana, uma cidade onde os currais foram convertidos em praças e as estradas boiadeiras em avenidas.
Que poeta, José Carlos, que poeta!
E que poema...
Lindo demais!!!
Abraço
HAHAHAHAHA. Esse poema foi mesmo muito hilário...estava precisando dele eu acho. abrçs e obrigado!
um poeta
[tudo isso!]
e tu, que escolha!
beijo.
Manuel Bandeira é um dos meus preferidos. A escolha desse poema foi perfeita.
Beijos
Brandão,
O poeta da cidade é isto ou este mesmo. Mas deve visitar a roça, sim, quando possível...
Eu já "brinquei seriamente" com algumas cidades que são emblemas dessa contaminação. Farei algo com Los Angeles City. Metabolizar contaminação também é tarefa poético-humana , e Bandeira sabia disso. Metabolizar não é "somar contaminação à contaminação"...
Licença poética à parte [por parte do Poeta], só isso [ o poder/saber metabolizar] já valia a visita à Feira de Santana. Eurico Alves saberia perdoá-lo.
Abração.
Maravilha,,,,,,parabéns pela escolha!❤
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