Dizem que a felicidade não é notícia, e tasca tragédia nos olhos do leitor, tão ávido de deliciar-se com a desgraça alheia. Mas será isso verdade? É o que Machado de Assis dizia no seu “Suave Maria Magno”: contemplar do alto mar de nossa segurança a tragédia do próximo.
Seria verdade tudo que o Velho Bruxo afirma? Creio que ele tem a sua boa dose de razão, como têm razão os jornais que nos impingem a dor como prato cheio – prato principal e sobremesa variada.
Contra a corrente, conto o que ouvi nos últimos dias. Uma cadela descobre uma criança no lixo, protege-a, salva-a. Um ato de heroísmo de que os seres humanos não são capazes – foram capazes de jogá-la, à criança, no lixo.
Outra notícia feliz? Um menino de nove anos morde um cão feroz e salva-se. Querem maior proeza? Ah, eu tenho maior proeza: um nenê de nove meses (nove passa a ser um número cabalístico) morde uma cobra coral, mata-a. Que força nos dentes – exclamo, pensando que um bebê ainda não têm dentes.
Que mais? Um menino toma um tiro entre os supercílios e sobrevive. Entre tantos casos de balas perdidas, que facilmente acham vítimas mortais, encontro uma que atinge justamente um menino, quase um nenê, justamente entre ou sob os supercílios, e por uns dois centímetros miraculosos, deixa-o com vida.
Por que os jornais não contam mais histórias que acabam bem? Temos tanta sede de sangue? O homem é um ser assim sanguinário? Não nos deliciamos com as flores, com os pássaros, com o sol e com a chuva?
É muito pedir que noticiem que uma flor e um pássaro cantaram, o sol e a chuva, cada um por sua vez, sorriram enamorados? Mas existem notícias felizes e existe gente sem tanta maldade no coração que quer ouvir boas novas.
Em face dos últimos acontecimentos – que nos anunciam o fim do mundo, mas enquanto não chega... Sejamos menos selvagens.
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