quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O CONSTRUTOR E A MORTE





 O CONSTRUTOR E A MORTE


A morte não é nada para as coisas, mas caminha
dentro delas
como numa carruagem. É uma fatalidade que o espelho
conjuga

com as goiabas da infãncia e todas as lagartas. Não fechem
as pálpebras do morto. Não fechem os ouvidos
do morto. Ele
traz nos olhos as ondas do mar primevo. Ele

traz nos ouvidos o rugido de tigre do oceano
como a pérola
na sua concha. As coisas
são pesadas, fechadas em seu ser de concha,

de pedra. É preciso considerar a pedra
do abismo. Carrego a morte no pescoço como uma
canga. Nasci com a morte na língua. O homem nasce
e morre de uma vez

só. É a questão da palavra
exata. As coisas que o fogo não consome, que se agitam na sua língua,
nas labaredas do eterno.
Que teatro para o meu anjo? Que palco? Que bastidores e que

plateia? As coisas, desprovidas de ênfase,
não são apenas coisas. As coisas, em sua nudez,
estão vestidas para o êxtase.



Um comentário:

Bazófias e Discrepâncias de um certo diverso disse...

É engraçado ter essa certeza de que as coisas contém o gérmen da sua própria destruição, ou - se preferir - a morte. Mas aí está a sua beleza. Abs