sábado, 15 de outubro de 2011

O POETA E SEU OFÍCIO




O POETA E SEU OFÍCIO

Havia um piano no terraço, fora da biblioteca, sob
as estrelas. A mulher
era uma rosa
em febre. O pássaro voava, voava, não acabava nunca

de voar.
É preciso não se esquecer de dar testemunho da vida e
da morte.
Havia um punhal na gaveta, havia um punhal

nos olhos espantados. Havia um revólver
com cabo de madrepérola, sem uso, esquecido para
nenhuma necessidade. Havia uma bengala
ensurdecedora. Qual era o poder da lei de Deus? O que Deus

ordenava? Quem decifrará
o enigma da esfinge? Deus como esfinge, oferecendo uma
espada. Cobrirei a face de cinza
para o enigma.

Deus me revelou a sua verdade como se eu fosse seu profeta
e eu, poeta
com um defeito na língua,
com um defeito nos olhos, com um defeito na espinha dorsal,

escrevo.


Um comentário:

BAR DO BARDO disse...

O poeta é seu ofício.