O ALEIJADINHO
Deixei os pedaços da minha carne nas
ladeiras de Ouro Preto.
Entre as pedras do calvário das
ladeiras de Ouro Preto
Deixei os pedaços da minha carne e dos
meus ossos.
Mutilado pelo divino, esculpo a forma
do divino.
O meu coração é de pedra e rói como o
ódio.
Eu trabalho o corpo de Deus, eu, o
sem-corpo.
A pedra me obedece com uma fé cega.
Deixei um pedaço do meu nariz na pedra
cega.
O cinzel amarrado no coto da minha mão
Faz saltar lágrimas e sangue da pedra
muda.
A minha fronte, face e beiço estão
grudados na pedra.
Talho a imagem de Deus à minha imagem.
A pedra sabe e fala sob o meu cinzel.
Do fundo do meu horror, olho para o
céu – petrificado.
No meu livro O silêncio de Deus,
2009, p, 75.
Agora veja no vídeo de Domingos
T. Costa:
Um comentário:
Não consegui ver o vídeo, o link me direcionou a uma música do Gorillaz... Mas um puta poema. Abraço!
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