sábado, 23 de março de 2013

GLEBA





Gleba


Noite imóvel, enigmática:
muralha errática:
de olvido.

Por breve momento:
o tempo não era o tempo:
de tão antigo.

Templo de pedra noturna:
o universo em cinza ondula:
tépida gleba.

Azul? escrínio? alfange?
o mundo é ocre, terra
e sangue.

.............

Um lábio secular em noturna
vigília: inflexível resíduo?
rosa suspensa.

O suspiro lento giro
da ausência: nítida a
palavra: exata e inarticulada.

Pálido segredo: labirinto
de evidências: a flor lavra
cristal e azul.

(poema de O emparedado, 1975) 





Gleba é o primeiro poema do meu primeiro livro, O Emparedado. Foi escrito em 1971, quando eu lecionava francês em Duartina. Foi quando conheci Luiz Vitor Martinelo, que lecionava filosofia lá e eu não sabia que era poeta, e vice-versa, com grande razão - Gleba foi o primeiro poema "adulto" que escrevi, nas coxas (por falta de mesa, no quartinho da pensão onde me escondia). Penso que comecei bem. Eis aqui: um pouco de memória.