A aranha
A aranha fia o fio da minha vida
com paciência e luxúria, com seu próprio
fio finíssimo e puro, atrás de mim,
não à frente, por onde vou. A origem
é o meu fim. Na minha própria teia
eu me enleio: de angústia e de beleza
é tecido o meu leito, leve, no ar
suspenso, no equilíbrio em que se libra,
caminho frágil para si voltado.
A luz do alto ilumina o precipício
e se me perco em sombras e delírios,
mais me encontro na senda do real.
O claro-escuro se articula, e lúcido
sigo, sem extravio. O mito lírico
me revela quem sou, que Deus me tem
na teia de sua luz, e, cego, vejo.
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