NASCIMENTO DA POESIA
Eva não comeu da maçã no Paraíso, comeu um figo.
Estava embaixo de um figueira,
opulenta,
carregada de figos maduros, abertos ao sol de tão maduros,
e não em baixo de uma macieira,
essa árvore sem graça
que produz umas frutas sem graça
como areia
molhada.
Adão comeu o figo e soube que era bom. Adão conheceu
o bem e o mal
e cobriu-se com as folhas da figueira.
Adão e Eva foram expulsos do Paraíso cobertos de folhas
de figueira.
Tinham descoberto o sexo e o amor entre um homem
e uma mulher
e estavam felizes e tristes como um rouxinol
no escuro
da madrugada – nessa hora em que se abre o ovo da poesia.
2 comentários:
Perfeito, José Carlos! Nasceu a felicidade e a tristeza; a guerra e a paz; nasceu a bondade e a avareza. E os poetas contam tudo com elegância, com ritmo e com beleza. Mas isso... só poeta faz.
Grande abraço, querido amigo.
Tais
Boa, Brandão. É preciso o olhar do poeta sobre tudo que é sem graça como areia molhada. Abraço!
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