PREPARATIVOS PARA O FIM DO MUNDO
1
Escrevo o
meu poema na tua pele,
escrevo o
meu poema no teu corpo.
Não preciso
mais nada para morrer.
2
O sol rouba
a cidade nos ombros.
A sombra cai
sobre as ruínas.
As cruzes
dos túmulos dominam a paisagem.
3
Alguns de
meus amigos preferiram morrer,
outros
perderam-se nas areias do tempo.
Eu contemplo
a lua e as estrelas entre as nuvens.
4
Nas ruas da
cidade os homens são como estátuas
em sua nudez
de pedra, sem nome nem voz.
5
As vozes e
as faces cadavéricas
escolhem a
cara das ruas da cidade.
6
A pedra é
fria e dura como uma pedra.
Serve para
esmagar uma cabeça
ou acalentar
um coração.
7
O meu
relógio está quebrado.
Ficaram mais
curtas as ruas.
8
O louco
gritava para ouvir a própria voz.
O eco batia
nos prédios e voltava
sempre como
uma voz alheia.
9
Sobre as
pedras da cidade
Arquejo como
um animal extinto.
10
Não lhe vi a
cara nem lhe sei o nome.
Ninguém lhe
viu a cara ou sabe o nome.
Ele é
ninguém, anônimo como um morto.
11
Os
nascituros são jogados no lixo
antes de
receberem um nome, antes sequer
de abrirem
os olhos para este mundo que os despreza.
12
O ar está
irrespirável
Quem sabe
seja o fim do mundo.
Quem sabe eu
não viva para saber.
13
Não deixar
para amanhã o grito de hoje.
Pode não
haver amanhã.
14
Bebo o
cálice com o vinho da dor.
Nunca
estarei saciado.
(Há um anos mais ou menos postei aqui um poema com o mesmo título deste, que também tem essa idade. Não sei explicar, não me lembro, fica como está.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário