segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

PREPARATIVOS PARA O FIM DO MUNDO






PREPARATIVOS PARA O FIM DO MUNDO


1
Escrevo o meu poema na tua pele,
escrevo o meu poema no teu corpo.
Não preciso mais nada para morrer.

2
O sol rouba a cidade nos ombros.
A sombra cai sobre as ruínas.
As cruzes dos túmulos dominam a paisagem.

3
Alguns de meus amigos preferiram morrer,
outros perderam-se nas areias do tempo.
Eu contemplo a lua e as estrelas entre as nuvens.

4
Nas ruas da cidade os homens são como estátuas
em sua nudez de pedra, sem nome nem voz.

5                                
As vozes e as faces cadavéricas
escolhem a cara das ruas da cidade.

6
A pedra é fria e dura como uma pedra.
Serve para esmagar uma cabeça
ou acalentar um coração.

7
O meu relógio está quebrado.
Ficaram mais curtas as ruas.

8
O louco gritava para ouvir a própria voz.
O eco batia nos prédios e voltava
sempre como uma voz alheia.

9
Sobre as pedras da cidade
Arquejo como um animal extinto.

10
Não lhe vi a cara nem lhe sei o nome.
Ninguém lhe viu a cara ou sabe o nome.
Ele é ninguém, anônimo como um morto.

11
Os nascituros são jogados no lixo
antes de receberem um nome, antes sequer
de abrirem os olhos para este mundo que os despreza.

12
O ar está irrespirável
Quem sabe seja o fim do mundo.
Quem sabe eu não viva para saber.

13
Não deixar para amanhã o grito de hoje.
Pode não haver amanhã.

14
Bebo o cálice com o vinho da dor.
Nunca estarei saciado.











(Há um anos mais ou menos postei aqui um poema com o mesmo título deste, que também tem essa idade. Não sei explicar, não me lembro, fica como está.)


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