sexta-feira, 30 de novembro de 2012

NASCIMENTO DA POESIA






NASCIMENTO DA POESIA


Eva não comeu da maçã no Paraíso, comeu um figo.
Estava embaixo de um figueira,
opulenta,
carregada de figos maduros, abertos ao sol de tão maduros,
e não em baixo de uma macieira,
essa árvore sem graça
que produz umas frutas sem graça
como areia
molhada.
Adão comeu o figo e soube que era bom. Adão conheceu
o bem e o mal
e cobriu-se com as folhas da figueira.
Adão e Eva foram expulsos do Paraíso cobertos de folhas
de figueira.
Tinham descoberto o sexo e o amor entre um homem
e uma mulher
e estavam felizes e tristes como um rouxinol
no escuro
da madrugada – nessa hora em que se abre o ovo da poesia.





2 comentários:

Tais Luso de Carvalho disse...

Perfeito, José Carlos! Nasceu a felicidade e a tristeza; a guerra e a paz; nasceu a bondade e a avareza. E os poetas contam tudo com elegância, com ritmo e com beleza. Mas isso... só poeta faz.

Grande abraço, querido amigo.
Tais

Fred Caju disse...

Boa, Brandão. É preciso o olhar do poeta sobre tudo que é sem graça como areia molhada. Abraço!