segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Periscópios




A tesourinha

A tesourinha pousa no fio.
A longa cauda corta o ar.


A andorinha

A andorinha pousa
na placa enferrujada
entre água e o olhar.


Flores

As flores de bucha
subindo no bambual
contra as nuvens brancas.


Namoro

O casal de marrecos
passeia no capinzal.


A imagem

A imagem congelada
das águas fluindo
no córrego.


Nudez

Nascemos nus,
mas com a morte no bolso.


Cur timeam?

Tenho medo
por que estou vivo.


Praga

Uma nuvem branca
do cuspe das lagartas
devora o tronco da árvore.


Premonição

A silhueta dos marrecos
nos galhos da árvore seca.


Folha de mamona

A enorme folha de mamona
respingada de gotas de orvalho.


Periscópios

Oito marrecos navegam
na água do lago.
Vejo apenas as cabeças pretas.

____________


 

8 comentários:

lírica disse...

Adoro todos Brandão!
bj

Felipe Costa Marques disse...

Infinitas emoções em maravilhosos "nanopoemas"

congratulações mil!

vieira calado disse...

As cabeças:

os periscópios.

Gostei dos seus poemetos.

Um abraço

Adriana Godoy disse...

Também gostei de todos. Um primor. Beijo.

Eliana Mora [El] disse...

no 'bolso' que forjas
está a 'companheira'

um espanto de belo

beijo,
El

Fernando Campanella disse...

Feliz associação entre a imagem da Sonia, e este poema:

Oito marrecos navegam
na água do lago.
Vejo apenas as cabeças pretas.

Gosto muito desta apreensão/impressão da objetivo , em poucas palavras...

Grande abraço, meu amigo.

BAR DO BARDO disse...

Diz: e quem precisa aprender haikai?!

Perfeitos!

Marcelo Novaes disse...

Brandão,




Tua contemplação da natureza [com periscópio ou a olho nu] é fértil, sobretudo porque te inclui e te devolve a ti mesmo: é porta permanente para o dentro-fora/ fora-dentro.






Abração.