sábado, 23 de janeiro de 2010
Poética essencial
Escrevo para descobrir o verbo essencial.
Eu quero o verbo essencial.
A rosa,
as pétalas em chamas,
a rosa das trevas,
o cálice de néctar e sangue,
a essência da rosa.
Escrevo para entrar em êxtase.
Escrevo para ver Deus.
Quero escrever um poema tão mal feito
que só Deus para consertar.
Um poema tão sem sentido
que só Deus para me dar a chave.
Um poema do abismo
que só Deus para me salvar.
Um poema que me anule,
absolutamente.
Na folha branca,
na pedra fria,
só o absoluto de Deus.
_________
O Silêncio de Deus, 2009
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10 comentários:
Este não é esse poema mal feito a precisar de conserto, não é o poema sem sentido...
É o poema do descontentamento, da urgência da perfeição.
Muito bonito!
Por vezes nos sentimos 'tavola rasa', e somem certezas, valores.
Um belo poema [de dentro] para o próprio centro...
um abraço e um beijo
El
Quanto mais imperfeitos, mais humanos. E quanto mais humanos, mais próximos da essência absoluta que nos fez assim, tão relativos...
Brilhante, Brandão! Beijo.
Lindo poema...adorei ler, está lindo.
beijinhos
Sonhadora
Mas o nosso Deus é um abismo de baixo para o Altíssimo...
Caro Brandão,
Esse teu poema - "A poética essencial" - é, não tenho dúvida, um dos seus melhores poemas que li, pois, afora a inspiração necessária, atende aos princípios essenciais da escrita poética.
Fez-me lembrar da lição de Massaud Moisés:
"Ao contrário do que pode parecer à primeira vista, as palavras do poema não são estáticas: num autêntico moto-contínuo, deslocam-se no poema obedientes a uma secreta lei de repulsão e atração, que nos revela como ausência ou presença de afinidade ou analogia".
Um abraço,
Pedro.
Na essência das tuas palavras, não há espaço para poemas mal feitos.
Um beijo meu e boa semana.
Que a minha solidão me sirva de companhia,
que eu tenha coragem de me enfrentar,
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir, como se
estivesse plena de tudo".
Clarice Lispector
Desejo uma linda semana para você.
Abraços com todo meu carinho
Poesia como ascese, Brandão, a anulação pra que o verbo divino se revele em nós. Sinto um místico habitando em vc, com toda dor ...ah, e com a leveza de metáfora também. Grande abraço.
escrever para transcender
: eis o meu fado também
(fado não, escolha!)
BRAVO, José Carlos!
Bjo,
e paz.
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