segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A Cecília Meireles




A BAILARINA

Escala íntima, prece entretecida
reflexo alado e cântico delido
a bailarina arremetida vela
o corpo-ritmo pluma que se anela.

É fábula cativa nas retinas
em equilíbrio lírico feridas,
é uma estrela livre sobre o dia,
intacto raio verde-gris contido,

e pássaro de prata cristalina,
librada em árvores de seda breve.
Tranqüila ceifa as asas como pétalas

e cai espelho concha de água e seta.
Fina imagem de flor que se enleva,
fantasia de brisa e luz reflete.

___________

Alberto da Costa e Silva lembrou bem: Cecília Meireles é bem pouco lembrada. Por quê?

Ele próprio, Alberto da Costa e Silva, é bem pouco lembrado. É um dos dois ou três maiores poetas brasileiros vivos (embora poesia não seja corrida de alcance, como lembrava Mário Quintana), mas quase ninguém o reconhece.

Cecília é um dos poucos nomes realmente grandes da nossa poesia, mas sofre quase um ostracismo. Não é demasiado ousada? Mas é preciso uma obra ser ousada? O que é essencial numa obra? Aliás, falar em essencial é falar em Cecília Meireles. Tenho dito.

8 comentários:

BAR DO BARDO disse...

Eu amo essa mocinha.

Bela homenagem, meu caro!

Anônimo disse...

Vc acredita que aqui em Minas pra todo lado que se anda sempre encontramos com a Cecília?!
Gosto muito e minha filha já está ficando igual a mãe.
Bjs.

Cristina Fernandes disse...

Quebrar o ostracismo é sempre um desafio a cumprir. Adoro a poesia da Cecília...
obrigado pela partilha
Bjs
Chris

Edson Bueno de Camargo disse...

O Cláudio Willer me disse uma vez que o brasil trata muito mal os seus poetas.

Cecília Meireles é uma das tantas pessoas que me provocaram a poesia.

Marcelo Novaes disse...

Brandão,




Retrato poético-e-fidedigno [nenhuma contradição entre-termos].


"é uma estrela livre sobre o dia,
intacto raio verde-gris contido..."




Exata cor.






Abração,









Marcelo.

Júlio Castellain disse...

...
Olá...
Gostei muito daqui...
Parabéns pelas letrinhas e pelo espaço.
...
Grudei aqui...
...
Abraço
...

nydia bonetti disse...

José Carlos

O que a crítica, a mídia e a "intelecutualidade" tem feito com muitos de nossos poetas e escritores, novos ou já consagrados, é de uma falta de visão absurda. Um "esquecimento" inadimissível.

Tua bailarina me emocionou. Beijo.

Fernando Campanella disse...

E tem dito muito bem, Brandão, bela homenagem à Cecília. Aproveito para enviar um poema que fiz a ela há uns quinze anos e que postei no blog em maio ou junho, espero que goste. Abraço.

VERSOS PARA CECÍLIA

Mesmo se tentasse tomar por empréstimo tua metáfora
quando em mim pousou leve
teu tempo, não a poderia tornar minha
que tão íntimo e próprio
é meu silêncio - e meu ser
vai disperso por outros ventos.

Posso sentir tua beleza recolhida
e doce no que evidente se mostra
no que se intui na arquitetura sonora
de teus versos, e me alimentar,
mais nada.

O resto repousa na chave sobrehumana dos enigmas.
Por isso então escrevo,
mais nada.
.
Fernando Campanella