sábado, 8 de agosto de 2009

para o dia dos pais




OS GALOS

O galo debulha a espiga da manhã.
Seu grito trepa as árvores,
o chifre das vacas, as esporas do meu pai.
O velho calça as polainas, amola a faca na pedra negra,

enfia na bainha, na cinta.
Bate o isqueiro de pederneira, acende o cigarro
e monta com um grito na garganta.
Como um galo.

Meu pai e o galo debulham o milho da manhã.
O dia trepa no terreiro,
na invernada,
com o gado mugindo,

soberbo,
único,
para os galos.


JACARANDÁ

Nesta colina está enterrado meu pai:
Emudeceu à sombra de um jacarandá.
Sua voz estrondava, dominava o mundo.
Apagou-se na fumaça do entardecer.

Que noite podre se abaixou sobre nós
Quando se foi o dono da terra, o senhor.
O pasto, a roça, o mato, os bichos existiam
Na sua voz, que é cinza escura dormindo.

Nós todos existíamos na sua voz.
Perdemos a noção de ser no mundo:
Estar, simplesmente, como os bichos estão.

Um homem existe plantado na terra
Ou é nada. Nós sabemos, mas essa verdade
Emudeceu à sombra do jacarandá.

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Foto de Trevor Hart - Flickr

7 comentários:

Cris Animal disse...

Poeta de poucas em infinitas palavras.....rs

Jacarandá.... esses homens são de verdade, esses pais são de verdade. Pais da vida. Seiva de jacarandás, seiva que flui por toda uma eternidade.

Lembrei de meu avô e amanhã é um dia que estarei com ele de forma mais intensa.
Ele é a minha seiva!

Lindo. Não sei se vc tem filhos, mas todo homem com sua alma é pai!
Feliz dia dos pais!


beijo grande e com carinho

nydia bonetti disse...

quando o dono da terra se vai, com ele vão nossos olhos... beijo

Sueli Maia (Mai) disse...

Lindo!
Forte e raro como são os jacarandás.

Abraços,

Bom domingo com os seus.

Anônimo disse...

OI José!
Feliz dia dos pais!
Bjs.

Adriana Godoy disse...

Nossa, me emocionei como esses belos poemas e me lembrei de meu pai plantado pra sempre nas terras do coração de seus filhos. Lindo, JC, me fez chorar. Beijo.

Fernando Campanella disse...

"Um homem existe plantado na terra
Ou é nada. Nós sabemos, mas essa verdade
Emudeceu à sombra do jacarandá."

Muito bonito o poema, Brandão, bela homenagem ao pai. Grande abraço.

BAR DO BARDO disse...

"e os ossos serão nossas sementes sob o chão" (Marcelo Fromer - Herbert Vianna - Nando Reis)

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à

ai
pai

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