terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Nenhures





NENHURES

Como um tigre, a manhã se aproxima.
Arma o bote diante do abismo.
Que universo é este?
Que Deus me guia?

Mastigo estrelas quentes como brasas,
me queimam a língua, como uma palavra.
Saco a morte do bolso,
atiro contra o enigma.

Carrego a minha cruz às costas, com galhardia.
Beijo a cruz como aos lábios de uma mulher.
O demônio me bafeja o calcanhar,
me cega os olhos cansados do caos cotidiano.

A árvore da eternidade tem as raízes para o ar.
Pássaros voam com ramos verdes no bico,
e caem pesados, estupefatos.
As águas vão e voltam, inúteis.

Além do véu
e dentro do espelho,
conheço quem sou: ninguém.
Espectro de outrem me habita.


7 comentários:

Fred Caju disse...

Brandão, muito bom. Tudo aqui me agrada. Vou dar uma olhada no que Gregório Vaz escreve também.

Abraços,
Caju.

byTONHO disse...



"nem um RES ← "

:)

→ Conheço um blog chamado:
http://nenhuressense.blogspot.com/

Visite-o antes que "ELE apareça"...

Eleonora Marino Duarte disse...

josé,

tens estado em guerra lírica com o tempo.

você está ganhando "disparado"!


belíssimo verso!


um beijo.

Unknown disse...

EXCELENTE!

"Sacar a morte do bolso e atirar contra o enigma."

Que coisa linda e todas as outras metáforas.

Mas você não é ninguém. É alguém muito importante a amado por Deus e pela árvore da vida!

Beijos, poeta!

Mirze

Mar Arável disse...

Não existem amanhãs

sem boas memórias

Adriana Godoy disse...

JC, gostei de ler Nenhures...dá uma sensação esquisita. Um não sei o quê de mistério, de demônios, de deus. Beijo

Fernando Campanella disse...

Gosto muito desta palavras, nenhures, deve haver um espectro de um poeta antigo que habita em mim, a língua nossa, vinda de alhures, com toda carga emocional mantida, remontando à criação do homem, e mais longe, talvez, antes...algures no universo.
Um abraço.