HERANÇA
Meu avô e meu
pai, lado a lado, refletidos
um no outro,
consumidos e continuados.
Quem sou, o
meu ser-estar no mundo vem desses dois,
do seu olhar
sobre a família, os cafezais, as plantações, o gado.
Imagino meu
avô e meu pai como Abraão e Isaac.
O sacrifício
de Isaac foi consumado
apesar da
misericórdia de Deus, ou por isso mesmo.
Abraão se
desdobra em Isaac (Marcílio, Luiz), em brasa.
A brasa que
traziam já no nome, Brandão,
queimando sob
a cinza, na noite do tempo
e além dela,
na chama das noites e dos dias sofridos.
Sofreram, como
ainda sofremos, altivos, os trabalhos dos dias.
Herdarão a
terra, estava escrito. Depois perdemos a terra,
que trazemos
na alma e para onde voltaremos como se volta ao lar.
Somos grandes,
sabemos: os nossos maiores eram imensos.
Meu avô e meu
pai, eu e meu filho caminhamos na nostalgia do sangue.
Um comentário:
Uma nostalgia poética que me toca muito!
Beijos,
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