quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

HERANÇA











     



       HERANÇA


Meu avô e meu pai, lado a lado, refletidos
um no outro, consumidos e continuados.
Quem sou, o meu ser-estar no mundo vem desses dois,
do seu olhar sobre a família, os cafezais, as plantações, o gado.

Imagino meu avô e meu pai como Abraão e Isaac.
O sacrifício de Isaac foi consumado
apesar da misericórdia de Deus, ou por isso mesmo.
Abraão se desdobra em Isaac (Marcílio, Luiz), em brasa.

A brasa que traziam já no nome, Brandão,
queimando sob a cinza, na noite do tempo
e além dela, na chama das noites e dos dias sofridos.
Sofreram, como ainda sofremos, altivos, os trabalhos dos dias.

Herdarão a terra, estava escrito. Depois perdemos a terra,
que trazemos na alma e para onde voltaremos como se volta ao lar.
Somos grandes, sabemos: os nossos maiores eram imensos.
Meu avô e meu pai, eu e meu filho caminhamos na nostalgia do sangue.





Um comentário:

Tania regina Contreiras disse...

Uma nostalgia poética que me toca muito!

Beijos,