OS ELEFANTES
Os elefantes retiram-se para morrer.
Limpam os cascos, o couro duro, casca
a envolver uma alma, ou sua ausência.
Ouçam as ondas, ouçam os ventos, e a distância.
Os elefantes aderem à terra, à pedra, como caramujos,
como lagartos no deserto, vestidos de solidão.
Vivem à superfície das coisas, da inércia.
As cabeças pendem aflitas para o chão fundo.
Os elefantes medem as passadas, a sombra, a dor.
Marcam a terra com o rastro, como uma efígie.
Desenham a curva insana do universo, esquecidos
de Deus, eles que são a vulva da memória.
Os elefantes caminham para a terra apodrecida,
a terra da ausência. Carregam a tristeza na tromba
pensa. O sal do tempo é um convite ao abismo.
A febre iluminará o último vestígio de êxtase.
Os elefantes fecham os olhos à espera do esquecimento.
É o tempo das moscas, do zinabre úmido, da cal.
É tempo de cantar uma ode à morte, já desejada.
É tempo de debulhar as favas da morte para o eterno.
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