JORGE LUIS BORGES
O espelho a minha frente é coisa muda,
Mas de sua mudez ele me fala:
A imagem alheia do outro lado
Me contempla longínqua e interrogante,
Parte de mim, em mim multiplicada,
E posta fora do que sou, textura
De outra pessoa, de outro sonho e forma
(No largo sono de um deus tranqüilo,
A voz se cala e deixa que o cristal
A memória de um vago ser recrie)
Ilusória assim como qualquer cifra.
Existimos, inúteis, refletidos.
Um teatro de sombras, sigiloso:
O que somos, em nosso alto crepúsculo.
O espelho a minha frente é coisa muda,
Mas de sua mudez ele me fala:
A imagem alheia do outro lado
Me contempla longínqua e interrogante,
Parte de mim, em mim multiplicada,
E posta fora do que sou, textura
De outra pessoa, de outro sonho e forma
(No largo sono de um deus tranqüilo,
A voz se cala e deixa que o cristal
A memória de um vago ser recrie)
Ilusória assim como qualquer cifra.
Existimos, inúteis, refletidos.
Um teatro de sombras, sigiloso:
O que somos, em nosso alto crepúsculo.
José Carlos Mendes Brandão, Exílio, 1983.
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