quarta-feira, 20 de abril de 2011

O elefante




O ELEFANTE

Também chora em mim um elefante.
O meu peito ofega com o peso do mundo.
A porteira range, a cadeira range, e a ausência
continua a ranger noite a dentro, até hoje.

Eu olhava o relógio parado na parede
adivinhando a queda do tempo, como óleo quente.
Os lampiões lançavam sombras nas telhas
da cozinha, entre os morcegos e o picumã.

Que podem as palavras contra o esquecimento?
O queijo da infância debruça-se sobre a mesa,
As formigas fazem o seu trabalho, a aranha arma
a teia, solerte, com paciência infinita.

Somente o homem é um bicho sem paciência.
Os trabalhos e os dias, o rangido da rede
no mormaço da tarde, contra o ofício da morte.
Era tranquila a vida, quase um êxtase,

mas aprendíamos a morte. Como um elefante,
aprendíamos a morte. Sem lápides,
aprendíamos a morte no horizonte em brasa.
O olvido trincha a carne sob a campa do tempo.

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