1.
Abro a janela para o terreno baldio
com suas cabras espantando os urubus.
O sol dá-me de chapa na cara,
poças d’água e árvores secas me olham.
A rua parada, sossegada, espera
a passagem de um burrico preguiçoso.
Quando saio, o sol continua a arder-me na cara
e o calor asfixia, tolhe-me o corpo, os pulmões estralam.
Uma nuvem branca caminha para o mar,
cada vez menos nítida, some no horizonte.
Os meus passos na calçada se apressam para nada.
2.
Côu, côu, côu! Vem, Neguinha! Vem, Teimosa, vem!
Seu Chico alimenta as vacas para ordenhar o dia.
A moenda de cana com os braços caídos para o chão.
Os cachorros latem balançando o rabo,
fungando com a língua de fora.
Um casebre fumega na beira do mato.
Procuro quem sou, quem fui,
com um aperto no peito, a alma saindo dos olhos bobos.
Um moinho abandonado apodrece num canto,
ao lado o tronco esquecido de uma peroba, do que foi uma peroba.
3.
Uma mulher nua no meio da rua, de pernas abertas para cima.
A molecada se assanha, uma pomba branca bate as asas.
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