sábado, 12 de março de 2011

Preparativos para o fim do mundo




O poema cresce independente de mim.
Eu o escrevo, escolho as palavras, as poucas imagens,
procuro controlar minha ânsia de metáforas.
Eu o escrevo, mas ele não tem nada a ver comigo.

O mundo lá fora é o que interessa.
O poema me expulsa do calor do ninho.
O poema me expulsa dos ovos com a vida regurgitando.
Há uma guerra lá fora e só essa guerra interessa ao poema.

Se uma gralha grita, é para estourar a paisagem.
Se o melro voa de um lado a outro do rio,
é para me lembrar que tudo passa,
que não é este lado
ou aquele que interessa.
Aliás, nada mais interessa.

Interessa o que está fora do meu controle.
Um frio me gela a espinha.
Parece que vou quebrar.
O meu poema caminha na rua,
quebrando o cimento
e a insensatez humana,
com a sua carga de dor
e estupefação.
           É como o fim do mundo.                                                             

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(Este poema está no blog do Gregório Vaz. Penso que merece mais visibilidade e o deixo aqui também.)


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