terça-feira, 6 de setembro de 2022

Conversa de surdos

 


Conversa de surdos

 

 

Meu pai contava este chiste. A graça era repetir duas, três vezes. Meu pai era um homem sério, ninguém esperava que contasse piadas, nem uma piada inocente como esta. Não é à toa que dizem que o humorista é uma pessoa séria, quando não triste mesmo. No entanto, contar piadas é uma arte. A graça viria do inusitado – nunca se esperaria de tal pessoa tal comportamento.

 

É preciso ter timing para escrever um poema. É preciso ter timing para contar uma piada. Ele tinha. Há uma medida interior que só o poeta ou o humorista têm.

            Ouçam. Dois amigos se encontram e dialogam:

 

– Vais pescar?

– Sim, vou pescar.

– Ah, pensava que ias pescar.

 

Uma pequena pausa e continua:

 

– Vais pescar?

– Sim, vou pescar.

– Ah, pensava que ias pescar.

 

Depois de outra pausa:

 

– Vou pescar.

– Ah, pensava que ias pescar.

 

 

 

 

Um comentário:

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, amigo José Carlo, gostei muito de sua crônica e da piada.
Também acho que muitos humoristas são tímidos.
Certa vez uma amiga jornalista entrevistou aqui, em Porto Alegre, o Chico Anísio, no teatro, antes do espetáculo. Ela ficou surpresa com a timidez desse grande humorista.
Uma boa semana, com muita paz.
Grande abraço.