LUZIA
O crânio
sobreviveu a Luzia por milhares de anos,
não sobreviveu
ao fogo.
Não existiam
museus, não existiam políticos,
o homem
poderia ser violento no tempo de Luzia,
mas era
inocente.
Aquele ainda
era um tempo de inocência.
Pobre este
tempo nosso
em que não
existe um resquício de inocência
fora aquela
das menininhas
e das estrelas
alfa.
No tempo de
Luzia o homem era feliz,
não faltava
nem um guizo ou um dente no pescoço
para anunciar
a felicidade.
Hoje o homem
clama por justiça
como um bem precioso
e longínquo.
Sempre que há
clamor por justiça
há falta de
justiça.
No tempo de
Luzia não se sabia o que era justiça,
não era
necessário.
Hoje o crânio
de Luzia sobreviveu ao corpo de ontem
e ao museu
queimado.
Luzia é uma
ideia e as ideias não se queimam.
Os homens
passam, mas as ideias ficam.
Luzia é a
ideia da pureza bruxuleando
neste nosso
tempo escuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário