sexta-feira, 20 de março de 2009
Folhas do outono
CENA
Na rua molhada
o cachorro morde o rabo.
Cai na poça d’água.
ALVORADA
Os lençóis no varal,
as cerejas vermelhas
e os pássaros da aurora.
AMARELINHA
As crianças gritam
pulando amarelinha
nas sombras do sol.
FLAUTA
As andorinhas no fio
como numa pauta.
Até se ouve a música.
INFÂNCIA
Barcos de papel
navegam na enxurrada
para nunca mais.
FOME
O pardal no ninho
pia com fome da mãe
e da minhoca.
ADEUS
Como lenços brancos
barcos e gaivotas chegam
no mar da tarde.
O SALGUEIRO
O salgueiro chora
lágrimas de ouro e âmbar
na luz da tarde.
OS SINOS
Os sinos de bronze
nas ladeiras de Ouro Preto.
A alma resfolega.
OUTONO
As folhas do outono
no labirinto da vida
enfeitam o caminho.
MEMÓRIA
Na sombra das árvores
a dança da borboleta
e da memória.
FIAPOS
No anoitecer da vida
alguns fiapos de nuvens
e de palavras.
GAIOLA
A gaiola aprisiona
o pássaro,
não o canto.
ASSOMBRO
O gemido da sombra
da árvore que cai.
CAMINHADA
Por mais que caminhe
não chego ao mar
nem à terra.
CRISTAL
Vejo a tua face
na gota de orvalho.
IMAGEM
A libélula
à beira d’água
se procura.
QUIETUDE
Ouve-se
o som da sombra
de uma folha.
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7 comentários:
Hoje é em Portugal que se celebra o Dia da Poesia. Por isso não podia deixar de vir aqui, partilhá-lo contigo.
Abraço
JC
Sinto muita falta do som do sinos. Nossa igreja matriz de Sto. Antonio está interditada e só uma vez por mês (todo dia 13) os sinos dobram, pra nos lembrar do compromisso de reconstruir o templo. Tarefa difícil em tempos de crise. São centenas de pinturas no teto a serem restauradas, além dos reforços estruturais. Trabalho difícil, demorado e caro. Muito caro. Mas o Sto. não vai ficar sem sua casa, eu creio. Se não for pela fé, que seja pela arte. Não se pode deixar perder um patrimônio artistico como nossa igreja.
Viu só. Seu poema fez minha alma refolegar...
Beijo
Recomeçar é renascer para a vida
Reconstruir é reparar os danos
Siga em frente sem olhar p'ra trás
Não te censures, pois somos Humanos!
(Pequenina)
Te desejo um domingo com muito amor e carinho
Abraços do amigo Eduardo Poisl
Vc é singular! Mas digo isso no real sentido da palavra e essência.Vc é único nessa intensidade.
"A gaiola aprisiona
o pássaro,
não o canto."
É para chorar.....
beijo
.............Cris Animal
P.S deixei um comentário p/ vc no post do meu blog sobre proteção de textos na internet.
seus epigramas e hai-kus são um primor... muita sensibilidade para filigranas e arabescos...
ASSOMBRO
O gemido da sombra
da árvore que cai.
muito bom mesmo!
JOSE..............Oi, Mestre!
estou de saída para almoçar com uns chilenos que vieram visitar as enchentes de Sampa...rsrsrsrsrs
Assim que voltar eu te passo o e-mail. Acho que vc deve saber de tudo, mas vale à pena a troca de informação até mesmo pra mim. Principalmente para mim. Afinal, escritor e poeta aqui é vce a Sônia.
Beijo
J.C.Brandão esses hai-kais são delicados e fortes. Muito bem construídos e nos possibilitam inúmeras imagens. Adorei.Bj
"O dia inteiro
usando um chapéu
que não é meu" Kerouac
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