quarta-feira, 4 de março de 2009

Cinzas



MAS

Tinha a garganta cortada
e os olhos vazados,
mas ouvia os pássaros.


FÊNIX

Das cinzas da palavra
voa um pássaro.


AS CRIANÇAS

Os cabelos dourados
das crianças no pomar.
Cantam macieira acima.


O MELRO

O rio calmo.
O melro canta
imóvel como a água.


PERMANÊNCIA

Só restaram cinzas
sobre a terra nua,
mas era uma árvore ainda.


A PASSAGEM

As árvores esperam
a passagem do rio
que não passa, não passa.


NA NÉVOA

Na névoa do vale
as pedras à beira d’água
absorvem a luz.

5 comentários:

Art'palavra disse...

Meu querido mestre Carlos Brandão: obrigadíssima por chegar ao meu humilde blog. Hoje pensei muito em você, na sua escrita que é esplendida. Gosto mesmo. Pensei também ná poesia de Sonia, em Pássaros impossiveis (o blog) e deu vontade de construir coisas e fui escrevendo e me deparei com um universo que eu venho tecendo ao som da zarabatana....rsrsrs....em princípio é esse o título do poema que venho construindo (Ao som da zarabatana) inspirada também na luz que vem de você e de Sonia. Bjos de luz, Grauninha

conduarte disse...

Bonito poema! Sempre te vejo navegando... Beijos CON DUARTE

Pedro Luso de Carvalho disse...

Pois é, José Carlos, aí esta um poema (Cinzas) da melhor qualidade. Muita inspiração, criatividade e técnica. Perfeito.

No meu Blog Panorama, respondi ao seu comentário sobre a Clarice Lispector, com o qual concordei na sua íntegra.

Abraço

Pedro Luso

Pedro Luso de Carvalho disse...

Caro José Carlos:

Para que seus leitores também tenham a oportunidade de ler o seu comentário sobre a Clarice Lispector, feito no meu Blog Panorama, transcrevo-o abaixo:

"Por que será que Clarice Lispector exerce tanto fascínio em tantos leitores - e até em não leitores?

Nem sei explicar por que exerce fascínio em mim. Mulher misteriosa? A sua obra deixa essa impressão. Muito mulher, muito feminina? Também, também. Nem precisou fazer esforço para isso.

Não é por ser grande escritora. Há outras. Nem por ser feminina ou misteriosa. Também há outras. A sua linguagem aparentemente simples deixa uma impressão de interrogar escaninhos do íntimo humano como nenhuma outra. Será mais que as outras mesmo? Até para quem nem a lê?

Clarice é amada, isso é essencial. Que escritor conseguiu glória maior?

Abraços".

BAR DO BARDO disse...

MAS é bastante de sublime