segunda-feira, 20 de julho de 2009

As águas do poema




A HERÁCLITO

As águas do rio
estão dentro dos meus olhos.
Nunca acabam de passar.


DIA DE GRAÇA

Era domingo e eu andava
sobre as águas rumo ao sol.


REPOUSO

O barco repousa
de borco na areia
sob a luz da lua.


O RELÓGIO

O poeta fotografa,
na falsa imobilidade do relógio,
o tempo imóvel.


O GIRASSOL

O poema é um girassol –
claridade para todos os lados.


AS ESTRELAS

Olhei o abismo da noite
e as estrelas queimaram os meus olhos.


SACO DE PANDORA

Enfiei a mão no saco de palavras
e tirei as palavras água, pedra,
árvore, azul e um pássaro saiu voando.


O RIO

O poema é um rio:
suas águas defluem
e lavam as dores do mundo.


OS PULMÕES

O poeta tem o céu nos pulmões,
a árvore com os pássaros de Deus.


O FIM DO MUNDO

Chovia a cântaros
quando o mundo acabou.
E sobrevivemos.


QUIETUDE

Como almas quietas,
as pedras no fundo d’água
por toda a eternidade.


IDENTIDADE

Não sou quem sou,
mas quem me invento.

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10 comentários:

BAR DO BARDO disse...

pandora ficou o bicho...

bonetti arquitetura disse...

Que belos girassóis, JC. E que as águas não cessem...
beijos
Nydia

Adriana Godoy disse...

Que belezuras esses poemetos. Identidade arrasou, valeu a madrugada. Intensamwmte poéticos, todos. Beijo.

Anônimo disse...

"O poema é um girassol –
claridade para todos os lados."
Amei!
Gosto tanto de vir aqui!
bjs.

Angela Ladeiro disse...

UM...muito interessante! As estrelas são as minhas preferidas...

Fernando Campanella disse...

Bom dia, Brandão. Vi o poemeto Autorretrato de Janeiro, e é muito lindo. Vi que a vc também causou estranheza da grafia (pós-reforma) da palavra, e, concordo, fírulas. O poema do Bandeira sempre será Auto-retrato.

Gostei muito de uns artigos teus que li, postados em Janeiro, sobre poesia, a morte da poesia, etc. Muito bem-escritos. Vou percorrer, sempre, o teu blogger pois há pérolas por lá.

'O barco de borco' na areia, bela sonoridade deste teu poemínimo recém-postado.

E, olhe, que tamanha coincidência descobri hoje. Li hoje um poemínimo teu na última postagem e lembrei-me de um poemeto meu , parte da série 'O Eu Confesso', que ainda não postei em meu blogger. Escrevi-o há dois anos atrás:

XXVIII

Um vento úmido
me soa um címbalo,
me dorme o tempo
um antigo bronze


e já não há mistério:
agora eu sou
o que me invento.
F.Campanella

Fiquei feliz com nossa identidade.
Grande abraço, poeta.

Anônimo disse...

Lindo...Indentidade é nós que inventamos...Dos Poesias ès tu a invenção

Talita Prates disse...

AMEI os poemetos: A HERÁCLITO, O RIO, O FIM DO MUNDO e IDENTIDADE!
Acompanharei teu blog para ficar sempre atenta às novidades!
Paz. :)
Talita.

Adrianna Coelho disse...


A Heráclito - divino!

Unknown disse...

voltei,

vou lendo, relendo

mas páro aqui,

nestas gotas de poesia

que amo especialmente.

obrigada.

um beijo