A HERÁCLITO
As águas do rio
estão dentro dos meus olhos.
Nunca acabam de passar.
DIA DE GRAÇA
Era domingo e eu andava
sobre as águas rumo ao sol.
REPOUSO
O barco repousa
de borco na areia
sob a luz da lua.
O RELÓGIO
O poeta fotografa,
na falsa imobilidade do relógio,
o tempo imóvel.
O GIRASSOL
O poema é um girassol –
claridade para todos os lados.
AS ESTRELAS
Olhei o abismo da noite
e as estrelas queimaram os meus olhos.
SACO DE PANDORA
Enfiei a mão no saco de palavras
e tirei as palavras água, pedra,
árvore, azul e um pássaro saiu voando.
O RIO
O poema é um rio:
suas águas defluem
e lavam as dores do mundo.
OS PULMÕES
O poeta tem o céu nos pulmões,
a árvore com os pássaros de Deus.
O FIM DO MUNDO
Chovia a cântaros
quando o mundo acabou.
E sobrevivemos.
QUIETUDE
Como almas quietas,
as pedras no fundo d’água
por toda a eternidade.
IDENTIDADE
Não sou quem sou,
mas quem me invento.
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10 comentários:
pandora ficou o bicho...
Que belos girassóis, JC. E que as águas não cessem...
beijos
Nydia
Que belezuras esses poemetos. Identidade arrasou, valeu a madrugada. Intensamwmte poéticos, todos. Beijo.
"O poema é um girassol –
claridade para todos os lados."
Amei!
Gosto tanto de vir aqui!
bjs.
UM...muito interessante! As estrelas são as minhas preferidas...
Bom dia, Brandão. Vi o poemeto Autorretrato de Janeiro, e é muito lindo. Vi que a vc também causou estranheza da grafia (pós-reforma) da palavra, e, concordo, fírulas. O poema do Bandeira sempre será Auto-retrato.
Gostei muito de uns artigos teus que li, postados em Janeiro, sobre poesia, a morte da poesia, etc. Muito bem-escritos. Vou percorrer, sempre, o teu blogger pois há pérolas por lá.
'O barco de borco' na areia, bela sonoridade deste teu poemínimo recém-postado.
E, olhe, que tamanha coincidência descobri hoje. Li hoje um poemínimo teu na última postagem e lembrei-me de um poemeto meu , parte da série 'O Eu Confesso', que ainda não postei em meu blogger. Escrevi-o há dois anos atrás:
XXVIII
Um vento úmido
me soa um címbalo,
me dorme o tempo
um antigo bronze
e já não há mistério:
agora eu sou
o que me invento.
F.Campanella
Fiquei feliz com nossa identidade.
Grande abraço, poeta.
Lindo...Indentidade é nós que inventamos...Dos Poesias ès tu a invenção
AMEI os poemetos: A HERÁCLITO, O RIO, O FIM DO MUNDO e IDENTIDADE!
Acompanharei teu blog para ficar sempre atenta às novidades!
Paz. :)
Talita.
A Heráclito - divino!
voltei,
vou lendo, relendo
mas páro aqui,
nestas gotas de poesia
que amo especialmente.
obrigada.
um beijo
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