domingo, 9 de fevereiro de 2025

CRIAÇÃO

 


 

 

CRIAÇÃO

 

 

Tenho 78 anos e ainda escrevo os meus poemas.

Continuarei a escrevê-los até o dia em que morrer.

São uma prova e sempre serão uma prova de que estou vivo.

Sei que a paisagem que vejo pela janela

não é apenas uma paisagem,

mas a marca do homem nesta terra estranha.

Vejo por esta janela a passagem do homem por esta terra.

O homem tornou estranha esta terra.

A poesia não vai salvá-la.

A poesia não vai salvar o homem.

Os poemas são objetos inúteis.

Continuarei a escrevê-los porque preciso.

Preciso desesperadamente continuar a escrevê-los.

Preciso continuar a anunciar que estou vivo.

Estou vivo e digo sol.

Estou vivo e digo terra.

Estou vivo e digo água.

Enquanto estiver vivo estarei anunciando o nome das coisas.

A poesia é o anúncio do nome das coisas.

A poesia é a criação do mundo e a sua permanência.

 

José C. M. Brandão

 



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