CRIAÇÃO
Tenho 78 anos e ainda escrevo os meus poemas.
Continuarei a escrevê-los até o dia em que morrer.
São uma prova e sempre serão uma prova de que estou vivo.
Sei que a paisagem que vejo pela janela
não é apenas uma paisagem,
mas a marca do homem nesta terra estranha.
Vejo por esta janela a passagem do homem por esta terra.
O homem tornou estranha esta terra.
A poesia não vai salvá-la.
A poesia não vai salvar o homem.
Os poemas são objetos inúteis.
Continuarei a escrevê-los porque preciso.
Preciso desesperadamente continuar a escrevê-los.
Preciso continuar a anunciar que estou vivo.
Estou vivo e digo sol.
Estou vivo e digo terra.
Estou vivo e digo água.
Enquanto estiver vivo estarei anunciando o nome das coisas.
A poesia é o anúncio do nome das coisas.
A poesia é a criação do mundo e a sua permanência.
José C. M. Brandão
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