sábado, 16 de dezembro de 2023

Haibun do Matão


 

            O grupo O Zen do Haicai publicou uma antologia dos haicais do Dia dos Pais. A minha contribuição é um haibun, que mostro aqui porque gostei da apresentação. (Lembro que o haibun é um pequeno texto em prosa poética terminando por um haicai – um pequeno poema de origem japonesa que consta de 3 versos de 5/7/5 sílabas poéticas, que deve ter ainda um kigô, uma palavra referente a uma estação do ano).

                                                                                *

 

            Morei meus primeiros oito anos na fazenda Matão, em Dois Córregos, SP. Quando chovia os trovões ribombavam nos céu, mas antes do anúncio dos trovões vinha a voz do meu pai, um Arrooooi prolongado, prolongadíssimo. Dizíamos que era a voz de chamar a chuva, mas era a voz de anunciar a chuva. Talvez ordenasse quando a chuva devia vir.
             Escrevi num poema curto, citando S. João 1, 19, que diz que ninguém viu a face de Deus, que eu não precisava: eu ouvi a voz do meu pai. A voz do meu pai criou o mundo. Aquele pequenino grande mundo que conhecíamos foi criado pela voz do meu pai.

                                        O trovão ribomba.
                                Arroooi grita alto o meu pai
                                         na volta da roça.


 

 

2 comentários:

Jorge disse...

nos passos do Buda,
nao ha ano bom ou mau,
apenas a luta

transdactilo de Issa Kobayashi

Keifer disse...
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