O grupo O Zen do Haicai publicou uma antologia dos haicais do Dia dos Pais. A minha contribuição é um haibun, que mostro aqui porque gostei da apresentação. (Lembro que o haibun é um pequeno texto em prosa poética terminando por um haicai – um pequeno poema de origem japonesa que consta de 3 versos de 5/7/5 sílabas poéticas, que deve ter ainda um kigô, uma palavra referente a uma estação do ano).
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Morei meus primeiros oito
anos na fazenda Matão, em Dois Córregos, SP. Quando chovia os trovões
ribombavam nos céu, mas antes do anúncio dos trovões vinha a voz do meu pai, um
Arrooooi prolongado, prolongadíssimo. Dizíamos que era a voz de chamar a chuva,
mas era a voz de anunciar a chuva. Talvez ordenasse quando a chuva devia vir.
Escrevi num poema curto,
citando S. João 1, 19, que diz que ninguém viu a face de Deus, que eu não
precisava: eu ouvi a voz do meu pai. A voz do meu pai criou o mundo. Aquele
pequenino grande mundo que conhecíamos foi criado pela voz do meu pai.
O trovão ribomba.
Arroooi grita alto o meu pai
na volta da roça.
2 comentários:
nos passos do Buda,
nao ha ano bom ou mau,
apenas a luta
transdactilo de Issa Kobayashi
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