terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Ars poetica






ARS POETICA


Sei absolutamente o que é um poema,
disse García Lorca mas não contou a ninguém.
Marianne Moore diz que a poesia desagrada
mas é a único lugar onde se encontra o genuíno.

Wisława Szymborska diz que é absurdo escrever poemas
mas prefere o absurdo de escrever poemas ao de não escrever.
Orides Fontela diz que a poesia é impossível
e que assassinou a palavra, a crueldade da palavra.

Adam Zagajewski diz que os poemas de Miloz parecem
escritos por um homem rico e culto  mas ao mesmo tempo
por um mendigo, sem casa, um emigrante solitário.
Às vezes penso o mesmo de todos os poetas.

Archibald Macleish diz que o poema deveria ser
sem palavras como o voo dos pássaros, não significar
mas ser. A poesia nos faz tocar o impalpável
e escutar a maré do silêncio, diz Octavio Paz.

A poesia faz entrar em crise a nossa relação com a linguagem,
lembra Barthes. Quer dizer, a poesia é um estranhamento.
O poeta é um estranho cuja única pátria é a linguagem,
mas a sua relação com a linguagem por definição está em crise.

Concluindo dizem que a poesia é a expressão dos sentimentos,
mas o palavrão e os gemidos também são. Aliás a epifania
de Gustavo Corção foi um palavrão. Afinal a poesia também
pode ser feita de palavrões, muito mais que de palavrinhas.







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