A LINHA LIMÍTROFE
poema(s) em prosa
ESSÊNCIA
A rosa essencial,
entre o tempo e a eternidade. O resto é silêncio.
A RELVA
Cresce a relva sobre
a sua boca, cresce a relva.
AMO O
MISTÉRIO
Amo o mistério
porque não sou eu, não são os outros, nem as coisas, mas tudo que está além de
mim, de minhas limitações humanas.
A NOSSA
VINCULAÇÃO
A nossa vinculação com a terra, de onde viemos, as nossas raízes. Ficar
deitado na terra, recebendo a força, toda a energia da terra.
ERA A ÁRVORE
Era a árvore
frondosa, ou a trepadeira que se estende sempre mais além.
Era a água, seu
poder transformador, o rio da vida.
Era o barquinho
fazendo água, o remador pobre, levando o barco e sendo levado por ele, pelas águas.
O QUE SINTO
O que sinto, se
o escrevo, são palavras.
Todos os
sentimentos do mundo, ou se perdem, ou, se são registrados, para não se
perderem, são palavras, que se perdem, porque não são nada.
AS MANGAS
As mangas contra o céu azul. O
vermelho das mangas, o verde das folhas, e o azul do céu. Sentimento de saciedade e de
infinito. A beleza das frutas e o infinito além do azul me saciam. Não preciso
pensar em Deus como não preciso pensar nas mangas.
A MULHER E O
GIRASSOL
Qual mais belo? São belezas diferentes, por que temos que nos meter em
comparações? A beleza da mulher está mais do que nos olhos, no instante em que
foi apreendida. Na apreensão desse instante. Mas a beleza do girassol também
está na apreensão do instante. Não serão uma só beleza? Como olhá-los ao mesmo
tempo? Impossível, mas necessário olhá-los ao mesmo tempo. Na linha limítrofe
desse olhar, está a beleza.
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