MATURIDADE
Prefácio da Antologia Literária nº 9 da Academia Bauruense de Letras,
que
comemora seu jubileu de prata
Nasci em 1993. Precisamente no dia 7 de julho, num suave inverno
bauruense de pequenas esperanças para o futuro. O Brasil tinha saído de uma
ditadura, nem sabia que tipo de governo queria. Passáramos por um plebiscito em
que até cogitamos de reerguer os escombros da monarquia, enquanto lutávamos com
graves crises econômicas que ameaçavam o futuro de uma democracia apenas
instaurada.
Um grupo de idealistas pensa na Academia Bauruense de Letras. É uma
aventura do espírito num momento grave da sociedade. O homem precisa de
símbolos que o norteiem. Bauru precisava do símbolo das letras que lhe
lembrasse a grandeza esquecida. A Academia é uma bússola indicando que o norte
do espírito é o que mais importa. A magia da língua inflamava os olhares, que
viam sempre mais longe. A grandeza da criação com a palavra iluminava o
caminho. O voo inaugural estava armado.
Era a certeza de que a Bauru do final do século 20 estava pronta para o
espetáculo da arte, do pensamento, do convívio numa Academia, nessa
confraternização tão buscada desde tempos imemoriais. A arte da palavra é filha
da memória, e sem essa memória e essa arte, como um êxtase a ser contemplado e
um enigma a ser decifrado, não se pode viver. A Academia Bauruense de Letras,
desde a sua fundação até hoje, sempre ergueu o seu baluarte em defesa da língua
portuguesa e da nossa literatura. Como lembrava Machado de Assis, não com o
poder de polícia, mas com o exemplo da criação literária.
A Academia Bauruense de Letras nasceu
idealista, sob a batuta de dona Celina de Lourdes Alves Neves, sob a égide da
poesia, da palavra, que é o seu instrumento. Não tinha sequer uma casa onde
instalar-se, onde deitar raízes: os atos inaugurais consolidam-se no plano da utopia,
para onde converge a trajetória humana. O ramerrão do cotidiano, a vida
sem novidades, que já não é vida, que desintegra a utopia, é vencido pela arte
da palavra como forma de inventar o mundo e como celebrar a realidade. Tinha
de seu o amor à arte e à língua, como uma ara da união do sagrado e do humano
de toda criação.
Bauru deu-me guarida na
esperança fundadora de vir a ser uma intérprete da realidade que então se
moldava. É um anseio pela memória que libera a Academia a bater à porta do
futuro. Esta antologia desse trabalho com a palavra, dessa escultura do verbo,
dessa modelagem com a matéria prima que é o sopro do espírito, é uma amostra do
que a Academia oferece a Bauru. O homem não sobrevive sem os valores da
inteligência, manifestos no uso da palavra, essa força vivificadora que nos
distingue e nos eleva a um plano diverso de outros seres.
Cheguei a 7 de julho de 2018. Foram 25 anos de luta silenciosa rumo ao pódio
do espírito. Atingi a maturidade. Os acadêmicos representam Bauru com orgulho,
Bauru pode orgulhar-se de sua Academia. Nosso enredo, nossa narrativa não se
esgota nos fatos da existência em si ou em simples obras de arte, mas
consolida-se no ideal da arte, com a palavra elevada à sua potência máxima.
José
C. M. Brandão
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