A cigarra desfia a porteira da tarde. Eu sou uma
moringa d’água porejando. O cachorro deitado na sombra fresca, de língua de
fora, abana o rabo.
As rãs fazem festa na beira do rancho e as
ingazeiras conversam com os inhames. As porcas se espojam na lama gostosa, a
caranguejeira sai do ventre da terra.
O bugio coça o queixo, boceja com preguiça. Os
cupins fazem a sesta sob os andaimes. O camaleão bota a sua farda verde e cinza
e destila a paisagem no bico de uma flauta.
A minha voz molhada pinga de uma árvore. É cor da
terra e vai caindo de manso.
*
No jamelão, a cigarra queima a tarde. As maracanãs
desenham a paisagem de vaias verdes. A mula baia se coça na peroba; o pau
d’arco pelado instiga a sede.
O cachorro fuça o chão da invernada, a jaguatirica
cisca, observa de banda. A cascavel deixa a casca ao pé do coqueiro, deixa os
guizos na minha mão de menino.
A paisagem de ontem era um cacto ao sol. Eu plantei
a semente com uma palavra, as vaias verdes das maracanãs nos meus olhos. Eu
entardeço com a cigarra na língua.
.
3 comentários:
Uma prosa poética singular, amigo José Carlos, da qual gostei muito.
Um bom final de semana!
Grande abraço
Pedro
José Carlos, coloquei o endereço do teu blog na lista (coluna) do meu blog 'Veredas' para ver suas atualizações.
Um abraço.
Pedro
Muito obrigado, Pedro. Também vou procurar acompanhar seu Veredas.
Abraços.
J. C.
Postar um comentário